Mais um dia na chuva

A chuva não traz apenas a agua
O vento e o frio
As lembranças rompem meus pensamentos
Como uma tempestade

As vezes tudo fica perigoso e confuso
Como uma roleta russa
Cruzar o sinal vermelho em alta velocidade
Como se não existisse razão para viver

Eu sei, eu sei
Todo esse drama não faz sentido
Apesar de ser um cara dramático
Entendo o quão patético o drama pode ser

Essa noite será como muitas outras
O cigarro no cinzeiro
A cerveja na mesa
E meu rosto bêbado na janela

Preciso sair desse buraco
Mesmo que seja da pior forma
Mesmo que seja  pela janela


Eu preciso me afastar de você, rápido!


Hoje eu não quero pensar no futuro
Não quero saber de trabalho

Você pode ter uma vida inteira para viver
E tudo chega no tempo certo
Na hora certa
Talvez os deuses não tenham me abençoado

Eu sei que persisto
Mesmo agindo errado
Desviando do caminho
Eu sigo em direção ao abismo

E se você não quer cair junto comigo
Nesse salto no escuro
Direto para o chão
Melhor se afastar baby

A solidão gosta de mim
E eu gosto dela
Simples como respirar
Mesmo que digam que não é algo bom
Eu continuo achando que vocês estão errados

Não olhe pra trás
Não bata na minha porta
Seria uma pena te encontrar
Porque eu ficaria parado, e você também
E seguiríamos adiante, nesse hospício que chamamos de mundo

Um pouco sozinho


Ela foi embora
Assim como as outras
Não que eu esperasse
Por algo diferente.

O problema é que sempre que alguém parte
Deixa algo para trás.
Aquela história que podia ter dito
Ou a que eu deveria ter contado

Talvez tudo tivesse outro caminho
Mas nunca tem.
E eu já estou cansado de tanto “se”
Nessa estrada louca que venho seguindo

Mais uma cerveja na mão e posso com vocês
Mais um cigarro e juro que chutarei vocês daqui
Mesmo que agora isso não passe
De um lugar que não é mais frequentado.

Fuck


Lá estava eu naquele ônibus lotado parecendo um punk estupido sem causa. Existem poucas coisas que me deixam com raiva atualmente, uma delas com certeza são as pessoas que fazem a viagem de ônibus ficar insuportável. Na maioria das vezes eu gosto dessas viagens. Você não precisa dirigir, passeia pela cidade e pode observar os lugares com calma, pensar sobre tudo. Se tudo estiver chato, sempre haverá uma garota ao seu lado que pode te entreter por alguns minutos.

Mas sempre existe algo que estraga o dia. Eu continuava no ônibus lendo a biografia do Led zeppelin quando alguns estúpidos entram fazendo barulho. Maldito som regional. Fechei o livro e resolvi esperar a hora de descer. Pro inferno aqueles malditos.

Saltei do ônibus e fui comprar cigarro. Aproveitei que estava com dinheiro e uma comprei também uma caixa de cerveja para beber em casa. Raramente saio para os bares, eles já foram algo que eu gostei muito. O rock n’ roll rolando, aquelas garotas que sempre estavam prontas para foder e toda aquela conversa de bar sobre boca, buceta e bunda. Aquilo já fora muito bom. Hoje em dia os bares estão infestados de caras estúpidos e garotas que pensam que é alguma coisa. Ninguém vale porra nenhuma, seres humanos não podem ser comprados, não existe valor em nada disso.

Mesmo assim prefiro beber sozinho na minha casa. Escolho a musica que quero, bebo e fumo meus cigarros e a vida passa tranquilamente. Mas, só as vezes, beber sozinho é um saco. Então, baby, quando quiser passar aqui e beber aquele uísque barato, é só dizer.

Falta de sentido numa vida ordinária



Essa é uma daquelas noites em que você precisa de um cigarro, ou de uma dose forte de uísque para poder sobreviver. Onde foi parar a força de outrora? Aquela sensação de que não há nada no mundo mais forte do que você, mas no outro momento você se vê desprotegido e vulnerável..
            A verdade é que nada nunca esteve sob controle. Nem deveria estar. A vida não pode ser moldada no conforto, apesar de preferirmos uma vida em segurança do que viver tudo que existe lá fora, pelo mundo. Mas não é disso que essa noite se trata. Ela se trata de sonhos despedaçados e esperança sendo jogada ladeira abaixo. Hoje tudo é dor e solidão, um beco sem saída.  Tudo essa noite se resume em pensar porque todos os outros a minha volta parecem felizes e com algum propósito em suas vidas, enquanto eu, bem, eu não tenho uma cerveja para beber e nada mais.
            Ao voltar para casa hoje, vi casais. Casais felizes, alguns distantes, mas ainda sim estavam juntos. E o pior: Todos eles pareciam estar indo exatamente para onde queriam. Eles sabiam o que estavam fazendo. Isso me deixou mal, porque eu era o único perdido naquela multidão. Mesmo que isso não seja necessariamente verdade, foi uma sensação poderosa que tomou conta do meu corpo. Eu senti inveja deles, admito. Mas não foi inveja de ter alguém para dividir os problemas ou a cama, mas de saber o que está fazendo. De não sentir-se como um completo desconhecido fora do ninho.
            Que noite fria essa. Apenas a musica de sempre tocando ao fundo, enquanto meus pensamentos passam a mil pelo meu cérebro. Meus olhos continuam tristes e sensíveis como sempre, mas todo meu corpo está preso a esse sentimento de impotência. Eu preciso sair dessa, e rápido. Aqueles casais que vi a algumas horas devem estar se divertindo agora. Talvez eles estejam brigando, talvez não estejam mais juntos. E sempre tem uma garota, ou várias garotas, que poderiam fazer o meu dia melhor, mas elas nunca fazem. Não, não é culpa delas, eu apenas não estou conseguindo fazer com que tudo dê certo. Aquele brilho nos olhos, aquela risada fácil e de bom tom, tudo isso está cada vez mais raro. A cada novo dia eu me torno algo que sempre achei impossível de acontecer, e isso está me matando. Talvez eu precise acabar com isso antes que seja tarde demais.

Todo mundo é lobo por dentro



            Espero que você não se engane comigo. Eu não sou uma pessoa boa, eu não irei para o céu que você tanto almeja. Eu sou tudo que não deveria ser. Sou aquele que traz a dor até você, mesmo que você não ache isso algo necessariamente ruim.Eu sou a faca que atravessa seu corpo lentamente, fria como a noite, eu corto sua carne rapidamente. Eu sou o demônio travestido de Santo. Eu recebo suas orações todos os dias, eu escuto seus problemas, mas eu não importo. Eu sou o ser mais egoísta que esse mundo já presenciou. Eu gosto quando as coisas dão errado para você, e então a lagrima corre pelo seu rosto.
            Eu sou o cigarro, o álcool, ou qualquer outra droga que te faz viajar para outros lugares, sem necessariamente te tirar do lugar.Eu sou aquele que você teme todas as noites antes de dormir. Aquele medo que sai do seu coração e paralisa o teu corpo. Eu sou aquele que você não consegue ver, mas sempre estive presente em sua vida. Eu sou o seu espelho. Eu sou o motivo da sua insônia. Eu sou a raiva, o ódio e a violência que existe em sua alma. Sou a rigidez do olhar de quem julga do martelo que condena e das algemas que nos impedem de voar. Eu sou aquele que vai te levar para o inferno quando você morrer, e eu estarei sorrindo quando a sua festa acabar.
            Eu sou o rei, o padre, o pobre. Eu sou você. Sou a tristeza do fim de tarde, o ultimo gole de uísque. Sou à vista da janela do carro, sou o nascer do sol. Sou a criança, o jovem e o adulto. Sou tudo e mais um pouco, nesse mar de relações. Sou o que eu pretendo ser. Culpado ou vitima, só depende de mim. Sou o que você será amanha, ou o que tu foste ontem. Sou de todos os tipos, branco, negro, índio. Sou tudo o que posso ser todas as possibilidades.


E você, quem é?

Adeus nunca é um bom final




A vida precisa nos destruir
Destruir nossas almas
Até que não reste mais nada.
Ela consegue ser cruel

Quando sua guarda está baixa
E você pensa que é indestrutível
Ela te joga no chão
Você vai a nocaute outra vez.

Eu sei que temos a vida pela frente
Vamos começar uma nova
A partir dessa noite fria
Mas que nunca será esquecida

Eu não te esquecerei
Mas agora tudo mudou
Eles finalmente venceram
Mas isso não é algo ruim

E daqui a alguns anos
Você não sentirá pena de mim
Apenas vai brindar comigo
Rindo sobre tudo que aconteceu

Essa é mais uma triste história de amor
Que acaba por aqui, essa noite
Como um filme que chega ao fim
Tenha um bom dia, até outra vida.

Deus passou lotado por nós




Nessa confusão que chamamos de vida
Certos momentos são deixados de lado
E, geralmente, esses momentos definem tudo
Tudo que podia ser, mas acabou não sendo

Eu tenho medo de perder esses momentos
Acho que todos nós sentimos esse receio
De deixar o instante passar bem debaixo do nariz
E tudo que sobra são as lagrimas na madrugada

Aquele copo de uísque para fazer companhia
E um blues tocando ao fundo, numa sala vazia
Todos os pensamentos cruzam a mente
E a única certeza é a que deus nos esqueceu

Talvez ele também esteja com pressa
Assim como todo mundo
Como você correndo atrás do ultimo ônibus
Acho que sou o único que continua parado

Sentado em minha janela, assistindo o movimento
Sempre olhando o céu do fim da tarde
Do começo da manha, sempre alaranjado
Enquanto meus olhos marejados perseguem os carros na avenida

E você sempre me achou tão duro
Querida, acho que você ficaria surpresa
Os meus olhos podem lacrimejar também
Mesmo que você não os veja assim.




PS: Feito enquanto escutava a musica abaixo: Oswaldo Montenegro - Taxímetro


Um pouco de vida


Ele estava sentado em sua cama
O cigarro esquecido no cinzeiro
E as garrafas de bebida pelo chão
Mostravam o caminho de sempre

Seus olhos marejados pelo vento
Que corria pela janela de seu quarto
Mostrava um mundo de possibilidades
Que escorregavam por suas mãos

A cada noite, a cada gole de gin
A muito já não pensava em orar
Sem amigos, sem mulheres, só seu drink
Sua companhia de todas as noites

Aquelas vozes estupidas já o incomodavam
E aquela felicidade absurda que elas emanavam
Falsas como os sorrisos das pessoas andando na rua
Já não havia mais paciência para suportar tudo isso

Ele tinha algumas escolhas a fazer
Poderia acabar com isso rapidamente
Mas não daria esse prazer aos canalhas
Então preferiu enfrentar a vida ao invés da morte

Acendeu mais um cigarro, fechou a janela
Terminou outra dose de sua bebida
E com seus olhos vermelhos
Sentiu-se renovado

Mesmo que por um breve momento
Sentia estar vivo outra vez
Pronto para a próxima luta
Mesmo que a perdesse

Afinal, o que seria a vida sem derrota?
Sem fracasso, sem solidão?
Talvez uma estupidez mais sem sentido do que já é
Ele precisava de ódio para seguir e agora o tinha.

Temporada de erros


Pra não dizerem que não fiz nada
Que me esforcei
Aqui estou outra vez

Bêbado ou sóbrio
Isso já não importa
Você precisa ficar imune
Ao veneno das pessoas

Esquive-se o quanto puder
Nunca deixe se apegar
E mesmo que a solidão chegue
Puxe uma cadeira, tome um drink.

Perceba que o mundo é maior do que ela
E você vale mais do que essa merda
Mesmo que tudo esteja caindo ao seu lado
Faça como a aranha, seja paciente

Beba, fume, tente sorrir de vez em quando
Não entregue aquela faísca de esperança
Se a perderes nada mais restará
E persista até o dia acabar.

James, o detetive parte III


Eu acordei no sofá de casa. Havia uma garrafa de vinho em cima da mesa e a TV estava ligada. Levantei e fui tomar banho para curar a ressaca, ou pelo menos acalmar as dores por todo meu corpo. Minhas costas estavam doloridas e com um hematoma roxo.  Quando a agua do chuveiro tocou em minha cabeça senti um alivio que logo foi substituída por mais dores. Havia um corte pouco acima da testa, mas não era profundo. Infelizmente, nenhum ferimento grave o suficiente para levar esse corpo alto e magro para o caixão. A água escorria pelo meu corpo e essa foi uma sensação boa. Foi a primeira vez em muitas semanas que senti que estava bem.

Passei três dias bebendo e dormindo sozinho. A comida na geladeira ainda não tinha acabado, pelas minhas contas ainda poderia sobreviver por dois dias antes que tudo acabasse. Eu estava usando um roupão antigo e sujo, sem absolutamente nada por baixo, meus olhos bêbados entregavam minha verdadeira face. Olhos marejados que encaravam a noite pela janela. Sem vontade, vida ou qualquer tipo de esperança. Foi então que bateram na minha porta.

Era a primeira vez que eu a vi. Ela me encarou com uma expressão de pena e de certo modo nós dois achamos aquilo engraçado. Seus cabelos eram vermelhos e combinava com sua pele branca. Ela segurava um envelope preto e ficamos nos encarando alguns segundos na porta até que sai do caminho e ela entrou. Fechei a porta logo em seguida e corri até a garrafa de uísque mais próxima.
- Isso é pra você - Ela disse.
- Como quer a sua dose?
-Você já não bebeu demais?
- Não.

Coloquei minha dose e deixei que ela a vontade para pegar a garrafa. Ela parecia não acreditar na figura que estava a sua frente, mas eu era real.
-Trate de trabalhar rápido, esse caso é importante
-Pensarei nisso depois que terminarmos de beber
-Eu não vou beber com você
- Você não aguentaria.
- Não sei por que escolheram alguém tão patético como você
- Nem eu, mas aqui estamos então aproveite.
- Vou concordar com você. Agora preciso ir
- Volte rápido, ficarei com saudades - abri um sorriso sarcástico.

Ela foi até a porta e foi embora. Tão rápido como chegou.  Ela era uma garota interessante e eu nem mesmo peguei seu nome. Continuei bebendo meu copo de uísque. Faltava-me estimulo para fazer qualquer coisa. A cama, o álcool e a solidão sempre foram meus bons e velhos amigos. Sempre convidativos, eu gostava deles, assim como eles de mim, mas agora era preciso trabalhar. As contas se acumulavam e elas não seriam pagas sozinhas.  Fui até o envelope e o abri. Lá havia algumas fotos de bares, botecos, portos abandonados e casas de Swing. Agora eu entendi porque precisavam de mim.  Nenhuma pessoa normal entraria nesses lugares onde as mulheres e as cervejas custam o mesmo preço e a vida pode ser tirada a troco de nada. Ninguém com diploma superior chegariam perto dessas pessoas. Se cazuza realmente está vivo, ele nunca seria encontrado por lá.

    Atrás de cada foto havia o endereço do local e todas continham uma simples ordem: Pegue-o! Deixei as fotos jogadas pelo chão da sala e voltei para a cama. Minhas costas ainda estavam doendo por demais.

A ruiva mais junk da ultima semana


Pegue mais uma dose
E brinde por estar vivo
Aproveite essa noite
Como se fosse a ultima

Tudo pode acontecer amanha
Talvez você tenha um ataque cardíaco
Ou o motorista não respeitou o sinal vermelho
Mas hoje você está vivo e isso é o melhor que você pode ter.

Sobrevivendo um dia por vez parece fácil
Quando o espelho te encara de noite
Ou o sorriso da garota em sua frente é bonito
Não tem como você não pensar na vida

E os seus olhos te encaram no espelho
E você sabe o que eles significam
Seu pensamento vai longe
Até uma casa distante.

E o sorriso da ruiva te encanta
E você pede outra dose
E brinda com ela
E tudo parece divertido.

Eu sei que todos os dias não serão os melhores
E você não pode torna-los assim.
Mas às vezes o mais improvável acontece
E vamos seguindo por esses dias terríveis

E como o titulo desse blog diz
Somos tão jovens para nos render
Ou para entender certas coisas
Que o certo é deixar que o acaso faça o seu trabalho




Hora de ir.


Há dias em que você não suporta
Todos aqueles sorrisos falsos
Você apenas observa a multidão
E deseja sair de lá rápido.

Tudo que você precisa é de solidão
O mundo nunca foi tão bom com ninguém
Ele apenas espera o momento certo
Para te derrubar.

Corra atrás dos carros
Corra atrás das garotas
Mesmo que você nunca ganhe
Não pare de correr atrás de algo.

Deixe seu coração sangrar
Pois eu sei que está doendo
E você sabe o porquê disso tudo
Todos sabem o porquê disso tudo.

Lembre-se dos conselhos de sua mãe
Não ande com estranhos.
Nessa cidade apaixonada
Todos usam mascaras de cera.

Saia dessa chuva que o atormenta
Deixe sua mente vazia
O próximo dia está chegando
Assim como novas oportunidades

Lembre-se dos nomes e você saberá
Quem riu de você, quem chorou por você.
Hora de seguir em frente meu amigo
O seu tempo acabou.

Ninguém veio te buscar
Ninguém retornou.
Hora de caminhar
Até a próxima estação



James, o detetive Parte II



                Eu acordei com uma dor de cabeça dos diabos. Estava sentado numa cadeira velha, com minhas mãos algemadas e apenas uma luz iluminando o ambiente. Em alguns instantes um homem se aproximou de mim. Seus Cabelos eram negros, bem penteados e também estava bem vestido com um paletó. Era o tipo de cara que eu detestava. Provavelmente cursou um curso tradicional, se formou na melhor faculdade, tem um carro legal, uma garota legal.
-Você é o detetive James?
- Não. E você?
- Também não sou, mas chame-me de John. Então detetive, imagina porque está aqui?- Ele abriu um sorriso falso que me fez despreza-lo ainda mais.
-Acho que não paguei a conta no bar, e você é o dono do bar
-Não. Está aqui porque quero que você investigue alguem pra mim
-Okay..vamos falar de negocios então. Comece tirando essa algema de mim
-Prefiro que fique assim. Você provavelmente me mataria sem essas algemas
- Você não é tão burro quanto pensei que fosse.
- Vamos falar de negócios.
- Cara, você não entendeu. Eu não vou fazer porra nenhuma de investigação.

                John então sacou uma pistola e apontou em frente a minha cabeça. Ele não falou nada, apenas apontou a arma, abriu um sorriso irônico e ficou me encarando com aqueles olhos estranhos.
- Atire. – Eu disse.
- Eu farei quando precisar. Por enquanto deixarei você vivo. –
- Tsc. O que tem de importante nesse caso? Como eu disse pelo telefone, não separo casais.
- Quero que você procure alguém pra mim
- Quem é a infeliz?
- Como eu disse outras vezes, não é uma mulher.
- Quem é essa pessoa então?
- Cazuza.

                Por um momento tive vontade de rir, mas não o fiz. Segurei uma gargalhada pelo absurdo que seria isso.
- Cazuza? Aquele que morreu em 1990?
- Esse mesmo.
- Ele está morto.
- Eu quero que o ache. Aqui estão algumas pistas dos últimos meses e também um adiantamento pelo serviço. Queremos que o encontre para nós. Quando o fizer, ligue para este numero.
                Ele me entregou um cartão com apenas um numero de telefone. Nenhuma marca ou nome. O maldito sorriso irônico ainda estava no rosto dele.  Logo após entregar-me o cartão, John afastou-se. Um homem forte, branco como a neve, aproximou-se de mim.
- Desculpe por fazer isso outra vez.
- Do que está falando?
                Ele mostrou a barra de ferro que segurava. Recebi outro ataque daquela barra de ferro na minha cabeça, dessa vez na nuca. Acordei no sofá de casa, com a tv ligada e um pacote em cima da mesa da sala.

Pequenas coisas da vida.


As melhores coisas da vida são as fáceis
Aquelas que não precisam de explicação
Apenas fazem você sentir-se melhor
Não importa se elas são boas ou más.

As pessoas nunca entenderão
Mas quando seu rosto está no chão
Você consegue olhar nos olhos
Dos que te importunam.

Quando esse grande hospício explodir
Esteja pronto para sobreviver
Abra a janela e fume um cigarro
E observe o mundo lá fora cair

Cair devido as pessoas
Que procuram o difícil
Enquanto o bom da vida fica de lado
Cada vez mais esquecido no armário

Um brinde aos amigos
As garotas que tive
A cerveja que resta
E ao cigarro que se foi.

Uma dama chamada Noite.


Sou um cara noturno
Gosto dos dois lados da noite
Do silencio de um quarto escuro
E do riso embriagado dos bares

A manhã não passa de um suporte
Uma obrigação que precisamos enfrentar
Para que no fim possamos ter o premio
De ver a lua e as estrelas, sentado na praia

Quando o sol desaparece
As pessoas se revelam
E nessa altura
Ninguém é responsável pelos próprios atos.

Sou apaixonado pela noite
Pelo seu mistério
Seu silencio soberano
Sua calma e paz que tanto mereço.

Sua alegria estampada nas ruas
Também exige destaque
Pela baderna dos bêbados
E pelo gemido dos amantes

De bar em bar pela noite
Matando uma cerveja de cada vez
O riso aumenta os amigos também
E a boemia segue firme seu caminho

Injustamente o que sobra pra manhã
São apenas lembranças da noite passada
Dos sonhos, das garotas, das piadas
E a ressaca sem fim de toda segunda.

James, o detetive Parte I



Tudo começou com uma ligação.

-Alô?
- Você que é o detetive James?
-Só quando estou sóbrio, quem fala?
- Tenho um trabalho pra você
- Não me meto em briga de casais, só digo onde ela está e com quem está.
- Não é uma mulher que eu quero que você investigue. Te ligo em alguns dias
- Talvez eu não esteja vivo até lá.

                Ele desligou o telefone. Voltei a tomar minha cerveja. O dia tinha sido difícil e já era tarde da noite, mas não tinha sono. Coloquei uma musica baixa e fiquei deitado na cama. Pela manhã só o que tinha me restado eram uma garrafa vazia de uísque no chão e algumas cervejas. Aquele cubículo que me servia como casa e escritório precisava ser arrumado. Havia latas vazias jogadas por todo o chão, resto de comida na cama, na sala e na cozinha e os ratos já haviam se tornado os donos do lugar. Eu nunca fui bom em organizar nada, nem em planejar coisa alguma. Ser detetive foi a única saída que me restou depois de algumas portas fechadas.

                Eu sempre fui curioso por natureza.  Se tudo tivesse dado certo talvez hoje eu fosse algum pesquisador importante, ou historiador, ou cientista espacial.  Definitivamente, eu não fui nenhum desses. Acendi um cigarro e fiquei na janela. O sol da manhã me cegava, mas eu não me importei.  Meu rosto cansado e pálido precisava de uma dose diária de sol para não me deixar com a aparência de um vampiro de filme juvenil. Apesar de sempre falarem que tenho um rosto bonito, uma expressão sempre fria e séria, mas interessante. Nunca entendi o que essas pessoas viam em mim, deviam estar muito carentes para pensarem que eu podia salva-las. Eu não podia salvar ninguém.

                 Fiquei esperando pela ligação misteriosa, mas eles não ligaram de imediato. Quando eu finalmente havia desistido de esperar, depois de alguns dias, o telefone tocou:

-Alô, quem fala?
- O senhor pediu uma pizza?
- Sim, já faz algum tempo
- então senhor, não consigo subir até o seu apartamento. Está tudo fechado
- Devem ter trancado o portão, malditos vizinhos. Espere um momento.

                Desci para buscar a pizza. Eu não gosto muito de pizza, mas não havia muita grana para comer outra coisa e beber e comprar meu cigarro e colocar gasolina no carro. Ou andava a pé, ou fumava, ou bebia ou comia bem. Preferi pedir pizza.

                Não lembro bem o que aconteceu em seguida, tudo que vi foi a barra de ferro me acertando em cheio na cabeça assim que abri o portão para o entregador.

- Vamos leva-lo ao chefe..

Ventos futuros



A brisa que vem do norte avisa
Que a tempestade se aproxima
No rádio há uma voz que grita
“Cuidado, São os ventos futuros”

Quem vai, quem fica?
Quando outra vez o vento soprar
Destruindo casas, vidas
Nada mais restará

Vamos então vagar
De bar em bar
Procurar algo a se agarrar
Tentando sobreviver ao dia a dia

Quando os ventos futuros chegarem
Espero estar preparado
Tentarei te salvar, meu amor
Mas você não pode desistir


Mais reclamações sobre a vida, amores e etc.


A mesa do bar continua vazia
Todos estão esperando
Enchendo seus copos
Distribuindo sorrisos.

Todos parecem felizes
Até o momento do rompimento
Daí vem a briga, a dose, o pulo
Cada um em seu momento.

Também tem dor, saudade, tristeza
A velha melancolia dramática de sempre
Apesar desses sorrisos de giz
Feitos por um ser vazio

Todo amor não é suficiente
Pois de nada adianta
Se o frio da noite sai vencedor
E tudo que sobra é um quarto vazio

Você deixa-se manipular
Apenas pelas falsas ilusões
De raros momentos felizes
Que vão se tornando cada vez mais breves

Você continua, és persistente.
Não pode errar, não pode falar
Apenas fica na sua
Que ela fica na dela

Você não sabe o que sentir
Apenas não gosta da sensação
Se sente impotente
Sabe que és um merda

Mas te aviso: Vai a luta
Bota tua cara e vai
Segue pra frente
E não te deixa cair no jogo

Não odeie ninguém
Apenas continue
E segue a vida
Assim como as canções


O mundo é mesmo essa porra que se vê




“Estamos afundando aqui!” ela disse
E estávamos mesmo.
A cada dia, a cada dose
Estávamos desesperados

Não tinha nada errado
Nem comigo, nem com ela
Podemos dizer que foi por acaso
Mas não foi.

Acontece toda hora
Com todo mundo
Todos nós estamos afundando
Afundando nossas vidas na lama

Sempre que o relógio despertar
Avisando que mais um dia chegou
Estamos morrendo no mundo.

Fomos enganados sobre tudo
Nossos pais não nos ensinaram
Que o mundo é uma vadia
Há coisas que precisamos aprender sozinhos

A nossa loucura é acreditar nesses clichês
De pensarmos que somos seres bondosos
Que podemos viver nessa merda
E disfarçar toda a canalhice dessa vida

Não adianta reclamar
É isso que temos hoje baby
Um monte de mentiras deslavadas
E meia garrafa de Uísque

Podemos continuar brigando
Fingindo que venceremos
Mas os canalhas chegarão
E farão tudo voltar ao normal.