James, o detetive Parte II



                Eu acordei com uma dor de cabeça dos diabos. Estava sentado numa cadeira velha, com minhas mãos algemadas e apenas uma luz iluminando o ambiente. Em alguns instantes um homem se aproximou de mim. Seus Cabelos eram negros, bem penteados e também estava bem vestido com um paletó. Era o tipo de cara que eu detestava. Provavelmente cursou um curso tradicional, se formou na melhor faculdade, tem um carro legal, uma garota legal.
-Você é o detetive James?
- Não. E você?
- Também não sou, mas chame-me de John. Então detetive, imagina porque está aqui?- Ele abriu um sorriso falso que me fez despreza-lo ainda mais.
-Acho que não paguei a conta no bar, e você é o dono do bar
-Não. Está aqui porque quero que você investigue alguem pra mim
-Okay..vamos falar de negocios então. Comece tirando essa algema de mim
-Prefiro que fique assim. Você provavelmente me mataria sem essas algemas
- Você não é tão burro quanto pensei que fosse.
- Vamos falar de negócios.
- Cara, você não entendeu. Eu não vou fazer porra nenhuma de investigação.

                John então sacou uma pistola e apontou em frente a minha cabeça. Ele não falou nada, apenas apontou a arma, abriu um sorriso irônico e ficou me encarando com aqueles olhos estranhos.
- Atire. – Eu disse.
- Eu farei quando precisar. Por enquanto deixarei você vivo. –
- Tsc. O que tem de importante nesse caso? Como eu disse pelo telefone, não separo casais.
- Quero que você procure alguém pra mim
- Quem é a infeliz?
- Como eu disse outras vezes, não é uma mulher.
- Quem é essa pessoa então?
- Cazuza.

                Por um momento tive vontade de rir, mas não o fiz. Segurei uma gargalhada pelo absurdo que seria isso.
- Cazuza? Aquele que morreu em 1990?
- Esse mesmo.
- Ele está morto.
- Eu quero que o ache. Aqui estão algumas pistas dos últimos meses e também um adiantamento pelo serviço. Queremos que o encontre para nós. Quando o fizer, ligue para este numero.
                Ele me entregou um cartão com apenas um numero de telefone. Nenhuma marca ou nome. O maldito sorriso irônico ainda estava no rosto dele.  Logo após entregar-me o cartão, John afastou-se. Um homem forte, branco como a neve, aproximou-se de mim.
- Desculpe por fazer isso outra vez.
- Do que está falando?
                Ele mostrou a barra de ferro que segurava. Recebi outro ataque daquela barra de ferro na minha cabeça, dessa vez na nuca. Acordei no sofá de casa, com a tv ligada e um pacote em cima da mesa da sala.

Pequenas coisas da vida.


As melhores coisas da vida são as fáceis
Aquelas que não precisam de explicação
Apenas fazem você sentir-se melhor
Não importa se elas são boas ou más.

As pessoas nunca entenderão
Mas quando seu rosto está no chão
Você consegue olhar nos olhos
Dos que te importunam.

Quando esse grande hospício explodir
Esteja pronto para sobreviver
Abra a janela e fume um cigarro
E observe o mundo lá fora cair

Cair devido as pessoas
Que procuram o difícil
Enquanto o bom da vida fica de lado
Cada vez mais esquecido no armário

Um brinde aos amigos
As garotas que tive
A cerveja que resta
E ao cigarro que se foi.

Uma dama chamada Noite.


Sou um cara noturno
Gosto dos dois lados da noite
Do silencio de um quarto escuro
E do riso embriagado dos bares

A manhã não passa de um suporte
Uma obrigação que precisamos enfrentar
Para que no fim possamos ter o premio
De ver a lua e as estrelas, sentado na praia

Quando o sol desaparece
As pessoas se revelam
E nessa altura
Ninguém é responsável pelos próprios atos.

Sou apaixonado pela noite
Pelo seu mistério
Seu silencio soberano
Sua calma e paz que tanto mereço.

Sua alegria estampada nas ruas
Também exige destaque
Pela baderna dos bêbados
E pelo gemido dos amantes

De bar em bar pela noite
Matando uma cerveja de cada vez
O riso aumenta os amigos também
E a boemia segue firme seu caminho

Injustamente o que sobra pra manhã
São apenas lembranças da noite passada
Dos sonhos, das garotas, das piadas
E a ressaca sem fim de toda segunda.

James, o detetive Parte I



Tudo começou com uma ligação.

-Alô?
- Você que é o detetive James?
-Só quando estou sóbrio, quem fala?
- Tenho um trabalho pra você
- Não me meto em briga de casais, só digo onde ela está e com quem está.
- Não é uma mulher que eu quero que você investigue. Te ligo em alguns dias
- Talvez eu não esteja vivo até lá.

                Ele desligou o telefone. Voltei a tomar minha cerveja. O dia tinha sido difícil e já era tarde da noite, mas não tinha sono. Coloquei uma musica baixa e fiquei deitado na cama. Pela manhã só o que tinha me restado eram uma garrafa vazia de uísque no chão e algumas cervejas. Aquele cubículo que me servia como casa e escritório precisava ser arrumado. Havia latas vazias jogadas por todo o chão, resto de comida na cama, na sala e na cozinha e os ratos já haviam se tornado os donos do lugar. Eu nunca fui bom em organizar nada, nem em planejar coisa alguma. Ser detetive foi a única saída que me restou depois de algumas portas fechadas.

                Eu sempre fui curioso por natureza.  Se tudo tivesse dado certo talvez hoje eu fosse algum pesquisador importante, ou historiador, ou cientista espacial.  Definitivamente, eu não fui nenhum desses. Acendi um cigarro e fiquei na janela. O sol da manhã me cegava, mas eu não me importei.  Meu rosto cansado e pálido precisava de uma dose diária de sol para não me deixar com a aparência de um vampiro de filme juvenil. Apesar de sempre falarem que tenho um rosto bonito, uma expressão sempre fria e séria, mas interessante. Nunca entendi o que essas pessoas viam em mim, deviam estar muito carentes para pensarem que eu podia salva-las. Eu não podia salvar ninguém.

                 Fiquei esperando pela ligação misteriosa, mas eles não ligaram de imediato. Quando eu finalmente havia desistido de esperar, depois de alguns dias, o telefone tocou:

-Alô, quem fala?
- O senhor pediu uma pizza?
- Sim, já faz algum tempo
- então senhor, não consigo subir até o seu apartamento. Está tudo fechado
- Devem ter trancado o portão, malditos vizinhos. Espere um momento.

                Desci para buscar a pizza. Eu não gosto muito de pizza, mas não havia muita grana para comer outra coisa e beber e comprar meu cigarro e colocar gasolina no carro. Ou andava a pé, ou fumava, ou bebia ou comia bem. Preferi pedir pizza.

                Não lembro bem o que aconteceu em seguida, tudo que vi foi a barra de ferro me acertando em cheio na cabeça assim que abri o portão para o entregador.

- Vamos leva-lo ao chefe..

Ventos futuros



A brisa que vem do norte avisa
Que a tempestade se aproxima
No rádio há uma voz que grita
“Cuidado, São os ventos futuros”

Quem vai, quem fica?
Quando outra vez o vento soprar
Destruindo casas, vidas
Nada mais restará

Vamos então vagar
De bar em bar
Procurar algo a se agarrar
Tentando sobreviver ao dia a dia

Quando os ventos futuros chegarem
Espero estar preparado
Tentarei te salvar, meu amor
Mas você não pode desistir


Mais reclamações sobre a vida, amores e etc.


A mesa do bar continua vazia
Todos estão esperando
Enchendo seus copos
Distribuindo sorrisos.

Todos parecem felizes
Até o momento do rompimento
Daí vem a briga, a dose, o pulo
Cada um em seu momento.

Também tem dor, saudade, tristeza
A velha melancolia dramática de sempre
Apesar desses sorrisos de giz
Feitos por um ser vazio

Todo amor não é suficiente
Pois de nada adianta
Se o frio da noite sai vencedor
E tudo que sobra é um quarto vazio

Você deixa-se manipular
Apenas pelas falsas ilusões
De raros momentos felizes
Que vão se tornando cada vez mais breves

Você continua, és persistente.
Não pode errar, não pode falar
Apenas fica na sua
Que ela fica na dela

Você não sabe o que sentir
Apenas não gosta da sensação
Se sente impotente
Sabe que és um merda

Mas te aviso: Vai a luta
Bota tua cara e vai
Segue pra frente
E não te deixa cair no jogo

Não odeie ninguém
Apenas continue
E segue a vida
Assim como as canções


O mundo é mesmo essa porra que se vê




“Estamos afundando aqui!” ela disse
E estávamos mesmo.
A cada dia, a cada dose
Estávamos desesperados

Não tinha nada errado
Nem comigo, nem com ela
Podemos dizer que foi por acaso
Mas não foi.

Acontece toda hora
Com todo mundo
Todos nós estamos afundando
Afundando nossas vidas na lama

Sempre que o relógio despertar
Avisando que mais um dia chegou
Estamos morrendo no mundo.

Fomos enganados sobre tudo
Nossos pais não nos ensinaram
Que o mundo é uma vadia
Há coisas que precisamos aprender sozinhos

A nossa loucura é acreditar nesses clichês
De pensarmos que somos seres bondosos
Que podemos viver nessa merda
E disfarçar toda a canalhice dessa vida

Não adianta reclamar
É isso que temos hoje baby
Um monte de mentiras deslavadas
E meia garrafa de Uísque

Podemos continuar brigando
Fingindo que venceremos
Mas os canalhas chegarão
E farão tudo voltar ao normal.